quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Galeria de Arte: Arte no Brasil

Galeria de Arte: Arte no Brasil

Ione saldanha








Saldanha, Ione (1919 - 2001)


Biografia

Ione Saldanha (Alegrete RS 1919 - Rio de Janeiro RJ 2001). Pintora, escultora e desenhista. Realiza seus primeiros estudos no Rio de Janeiro, no ateliê do pintor Pedro Luiz Correia de Araújo (1874 - 1955), em 1948. Entra em contato com os artistas Arpad Szenes (1897 - 1985) e Vieira da Silva (1908 - 1992). Viaja para a Europa em 1951 e estuda a técnica de afresco em Paris, na Académie Julian, e em Florença, Itália. Inicialmente produz obras figurativas, como cenas cotidianas e retratos, e pintura de casarios, em que enfatiza a geometria. Posteriormente, sua produção adquire um caráter abstrato. No fim da década de 1960, passa a utilizar novos suportes, abandonando a superfície bidimensional, e pinta sobre ripas, carretéis (bobinas de madeira para cabos elétricos) e bambus. Em 1969, recebe o prêmio de viagem ao exterior no 7º Resumo de Arte do Jornal do Brasil, e vai para os Estados Unidos e Europa. Participa de várias edições da Bienal Internacional de São Paulo, com prêmio aquisição em 1967, e sala especial em 1975 e 1979. Apresenta a mostra Resumo de 45 Anos de Pintura, nas galerias A. M. Niemeyer, Paulo Klabin e Saramenha, no Rio de Janeiro, em 1988. Em 2001, é realizada a retrospectiva Ione Saldanha e a Simplicidade da Cor, no Museu de Arte Contemporânea de Niterói - MAC/Niterói.

Alegrete, RS, 1919 – Rio de Janeiro, RJ, 2001
Nascida em Alegrete, no Rio Grande do Sul, em 1919, Ione Saldanha já na infância passa a interessar-se por artes. Seu interesse se dá ao ver em uma revista a imagem de uma pintura de Matisse. Nesse momento, ela decide que vai ser artista e passa a sonhar com sua mudança para o Rio de Janeiro, capital das artes no Brasil, nesse período.

A mudança para o Rio de Janeiro se dá na década de 1940, em 1948 passa a estudar no ateliê de Pedro Corrêa de Araújo, onde realiza seus primeiros trabalhos. Nesse mesmo ano participa do Salão Nacional de Belas Artes / Divisão Moderna, ganhando uma medalha de bronze por seu trabalho.

Em 1951 viaja para a Europa, lá fica por cinco anos. Primeiro em Paris, onde estuda a técnica de afresco na Academia Julian e posteriormente em Florença, onde também estuda a mesma técnica. Além do período de estudo, esse foi um período de grandes descobertas nos museus da Europa, onde se depara por fim com obras de seu inspirador primeiro, Henri Matisse.
Ainda morando na Europa, participa da Bienal Internacional de São Paulo em 1953 e do Salão Nacional de Arte Moderna no Rio de Janeiro, onde ganha o Prêmio Aquisição em 1954. Neste mesmo ano participa do Salão Preto e Branco do 3o. Salão Nacional de Arte Moderna, no Rio de Janeiro.

De volta ao Brasil em 1956, Ione expõe em uma Individual no MAM de São Paulo e na Petit Galerie no Rio de Janeiro. Em 1957 participa da Mostra “Itinerante Arte Moderna no Brasil” em Buenos Aires e Rosário, na Argentina. Em 1959 faz uma exposição individual no MAM do Rio de Janeiro. Ainda neste ano participa de uma coletiva de artistas brasileiros em Munique, Viena, Utrecht e Amsterdã, Lisboa e Paris, com a Mostra “Arte Brasileira”. Faz parte da mesma exposição novamente em 1960.

De 1961 a 1964 faz várias exposições individuais em Santiago no Chile (1961), Rio de Janeiro (1962), Berna (1964) e Roma (1964).

A partir de 1968 a artista passa a utilizar suportes diversos em seus trabalhos, tais como ripas e bambus, bobinas de madeira para cabos elétricos, entre outros. A mudança de suporte dá uma grande liberdade de expressão à artista que passa a criar não mais pinturas, mas sim objetos pictóricos e conjuntos de objetos até chegar às Instalações.

O interesse que até o momento era por cores e formas, ultrapassa o dimensional e se projeta em ambientes, instalando objetos que lembram ritos e festejos primitivos e populares, onde a tridimensionalidade de sua pintura ganha um “pulsar” através dos novos suportes.

Sua “brasilidade” é inegável, principalmente quando alcança o tridimensional, é através dessa nova poética que a artista expressa suas origens e a origem de seu povo de forma vibrante e colorida.

Sua obra nesse momento é dotada de uma espiritualidade singela, manifestada a partir de ritos primitivos, com imagens geométricas tribais e apesar de sutil cheia de sensualidade em sua origem.

Suas últimas obras datam de 2000, quando a artista já lutava contra um câncer que lhe tirou a vida em 2001. Ela viveu até o fim de sua vida no Rio de Janeiro, cidade que escolheu e amou, até seu último suspiro.


A terrível decisão

A jovem artista chegou, de volta à sua casa, cansada e arrasada. Já havia algum tempo que vinha procurando galeristas que se dispusesse a expor seus quadros, certa de que, com uma boa divulgação, eles encontrassem compradores. Nenhum marchand se interessou pela tarefa.

Manteve, então, contatos com museus, buscando espaço para realizar uma individual e, igualmente, o atendimento foi delicado, mas evasivo, trazendo um desalento ainda maior, acompanhado de frustração e revolta interior, uma justa indignação contra tratamento ignóbil que vinha recebendo.

E, de repente, tomou uma decisão, a mais grave decisão de sua vida, daquelas que envolvem um sacrifício pessoal imenso, quase que uma imolação. Era uma resposta que devia dar, não ao mercado, mas a si própria, recuperando a individualidade e fazendo renascer o amor próprio.

Resoluta e solitária, sem ninguém para testemunhar seu gesto, levou para o quintal de sua casa dezenas e dezenas de quadros que faziam parte de seu acervo, empilhando-os no chão. Depois, embebeu todos eles em combustível e ateou fogo.

Pelo menos as chamas apreciaram, e bastante, seus quadros, devorando-os com avidez e formando altas labaredas. Não precisou muito tempo e tudo estava destruído. No local, restaram apenas cinzas, o resultado final de um longo e bem elaborado trabalho, no qual a artista colocara tanto esforço e tantas esperanças.

Foi um protesto solitário. A imprensa não foi chamada para fazer o registro, e bem que gostaria de fazê-lo, já que os jornais se alimentam de fatos inusitados. Os amigos também não foram comunicados da decisão, senão, por certo, tentariam impedi-la de concretizar o ato insano.

A pintora acabara de cometer um suicídio virtual, no qual, se não consumia o corpo, entregava a própria alma ao sacrifício, uma alma que trasladara para cada um daqueles quadros, agora perdidos para sempre.

Não havia arrependimento. Com a alma lavada e uma sensação de alívio, a pintora voltou para dentro da casa.

Estamos no ano de 1949 e a artista decidida é Ione Saldanha, uma gaúcha de 30 anos, tentando a sorte na cidade do Rio de Janeiro.

Tanto trabalho por nada

Ione Saldanha nasceu em Alegrete, Rio Grande do Sul, em 5 de julho de 1921, destinada a ser uma bem comportada guria provinciana, repetindo a sina de outras tantas mulheres do interior, que atravessam a vida cuidando de filhos e dos afazeres domésticos.

Deveria ser, mas não foi. Um dia, folheando uma revista européia de impressão vulgar, que lhe chegou às mãos não se sabe como, viu uma pintura de Matisse. Era uma reprodução ordinária, em branco e preto, mas a adolescente viu naquelas formas toda a beleza registrada pelo grande mestre francês.

Naquele instante, Ione tomou duas decisões que mudariam sua vida: a primeira, imediata: seria uma pintora; a segunda, que levou mais tempo a concretizar: iria mudar-se para o Rio de Janeiro, a capital das artes no Brasil.

Concretizado o sonho de instalar-se no Rio, procurou, inutilmente, nos museus, as cores que sonhara ver na reprodução branco e preto de Matisse. Os quadros expostos nos museus eram sóbrios, contidos, de tonalidades escuras e nada tinham a ver com o colorido agressivo da pintura moderna.

Em 1940, finalmente, começou a ter aulas com Pedro Correia de Araújo, buscando aprender os segredos da pintura tradicional, para, mais tarde, fixar seus próprios rumos, que não era possível ainda divisar.

Depois, partiu para a Europa, onde ficou por cinco longos anos. Em Paris, tomou contato com o que se fazia de melhor em arte moderna. Já Florença foi para ela o reverso da medalha: lá aprendeu a técnica do afresco, tão utilizado na Renascença.

Ao voltar ao Brasil, trazia, pois, excelente bagagem cultural e artística, estando segura de que encontraria pronto reconhecimento ao seu trabalho.

Ledo engano. Se, desde a década de vinte, a arte moderna vinha se projetando e ganhando espaços, a grande preferência do mercado de arte ainda se voltava para a pintura acadêmica. O assentamento de novas idéias leva sempre muito tempo para ocorrer e a mudança de hábitos leva, às vezes, gerações.

Foi então que, depois de ingentes e inúteis esforços para obter reconhecimento, Ione pôs fim à sua obra, de forma dramática, no incidente a que nos referimos no início.

Entre ripas e bambus

O preceito bíblico de que primeiro é preciso morrer para depois renascer, se cumpriu na jovem pintora.

Livre de qualquer compromisso com a arte convencional, consciente de que, depois de tudo por que passou, nada na vida poderia ser pior, abandonou por completo toda a conceituação estabelecida de arte e buscou seu próprio caminho, único, pessoal e intransferível.

Doravante, nada mais de chassis de madeira e telas de linho. Nada que a aprisionasse a qualquer padrão vigente. Impressionada com a simplicidade da pintura de Volpi, começou a desenhar faixas coloridas sobre ripas, numa alegre combinação de tintas, em que a forma era nada e as cores eram tudo.

Das ripas, passou para o bambu. Eram bambus coloridos, com a mesma descontração das ripas, uma pintura quase infantil pela sua singeleza, mas que ganhava grandiosidade na combinação das cores e pela ocupação irregular dos espaços. Sobre sua arte, escreve Mário Pedrosa (1900-1981), crítico de arte do Diário da Noite, de São Paulo:

«Essas artes, ela as modula, não através de cores tonalizadas, mas numa verdadeira escala de cores que se harmonizam pelos contrastes, e estes ressoam de espaço em espaço, como num ambiente de festa na roça, em que as bandeirinhas de papel são substituídas por essas ripas e vigas, ora ajustadas às paredes, ora pendentes do teto.»

Na exposição da Galeria Bonino, em que participou em 1968, colocando sob os olhos críticos do público toda aquela variedade de hastes verticais coloridas, a recepção ao seu trabalho foi calorosa. Ganhou o prêmio de viagem concedido pelo Jornal do Brasil, e aproveitou para visitar os Estados Unidos.

Atingira por fim o patamar da fama e o reconhecimento, seguindo caminho próprio e alheia aos padrões que a colocavam em uma saia justa, dentro de um figurino que não combinava consigo mesma.

Criatividade infinita

No início dos anos setenta, Ione deparou-se, acidentalmente, com uma pilha de bobinas de madeira, que serviram para acondicionar fios elétricos e que agora, vazias, se destinavam ao lixo.

E o lixo virou arte. Realizando uma individual no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, o público foi surpreendido com uma série de bobinas pintadas por ela. As cores, antes restritas a ripas e bambus, agora ganhavam uma área mais para se movimentar.

Se as ripas, espalhadas no espaço ou penduradas, lembravam bandeirinhas de São João, já as bobinas, capazes de se mover de um lado para outro, passaram a simbolizar, para alguns apreciadores, selvagens numa dança tribal. Era a modernidade associando-se ao primitivo, traçando uma linha que unia o saudoso passado ao futuro almejado.

Para ela, já estava distante a fase da pintura em telas. As telas deram lugar à madeira, o óleo foi substituído pelo acrílico. As paredes deixaram de ser o receptáculo natural das pinturas. Elas eram colocadas ao chão nu, ou encostadas às paredes, ou penduradas ao teto.

Agora, todo espaço era válido. Estava quebrada a linha divisória entre a pintura, que transmite uma idéia, e o apreciador, que recebe a mensagem transmitida pela arte. Uma e outro se misturam, fundindo-se em um único elemento, como se ambos fizessem parte da obra de arte.

A solidão por companhia

O reconhecimento do trabalho de Ione Saldanha se fez presente nas inúmeras exposições de que participou e nos vários prêmios que recebeu durante sua trajetória pela carreira artística.

Isolada do convívio social por livre escolha, Ione seguiu pela vida, solitária e refratária a compromissos sociais, ainda que rodeada de amigos, que lhe reconheciam os méritos, mas respeitavam seu direito à privacidade.

Pintou enquanto lhe restavam forças. Seus últimos quadros datam do ano 2000, quando o agravamento de doença - um câncer ósseo nas proximidades do pulmão - a impediu de continuar as atividades.

Esses últimos trabalhos, Ione sequer chegou a expor. A última exposição de que participou deu-se em 1996, no Paço Imperial, no Rio de Janeiro.

Ao fim de uma longa luta contra o mal que a vitimou, por fim encontrou a liberdade absoluta que sempre procurara. Em 25 de janeiro de 2001, Ione Saldanha deixou o mundo dos mortais, encontrando o último repouso no Cemitério São João Batista, no Botafogo, zona Sul do Rio de Janeiro.

Não deixou descendentes. Também não deixou discípulos. A perpetuação de sua memória está garantida pela obra que realizou, inédita no mundo. Alguém até poderá seguir-lhe os passos, mas só a ela pertence a criatividade e a coragem de formular novas e personalíssimas formas para expressar sua arte.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Eduardo Sued



Eduardo Sued (Rio de Janeiro RJ 1925). Pintor, gravador e desenhista. Gradua-se na Escola Nacional de Engenharia do Rio de Janeiro, em 1948. No ano seguinte estuda desenho e pintura com Henrique Boese (1897-1982). Entre 1950 e 1951, trabalha como desenhista no escritório do arquiteto Oscar Niemeyer (1907). Em 1951, viaja para Paris, onde freqüenta as academias La Grande Chaumière e Julian. Em sua estada na capital francesa entra em contato com as obras de Pablo Picasso (1881-1973), Joán Miró (1893-1983), Henri Matisse (1869-1954) e Georges Braque (1882-1963). Retorna ao Rio de Janeiro em 1953 e freqüenta o ateliê de Iberê Camargo (1914-1994) para estudar gravura em metal tornando-se mais tarde, seu assistente. Leciona desenho e pintura na Escolinha de Arte do Brasil, em 1956 e, no ano seguinte, transfere-se para São Paulo, onde ministra aulas de desenho, pintura e gravura, na Fundação Armando Álvares Penteado - Faap, de 1958 a 1963. Em 1964, volta a morar no Rio de Janeiro e publica o álbum de águas-fortes 25 Gravuras. O artista não se vincula a nenhum movimento mantendo-se alheio aos debates da época. Sua carreira teve uma breve etapa pautada no figurativismo, mas logo se encaminha para abstração geométrica. Nos anos de 1970, aproxima-se das vertentes construtivas, desenvolvendo sua obra a partir da reflexão acerca de Piet Mondrian (1872-1944) e da Bauhaus. Entre 1974 e 1980, ministra aulas de gravura em metal no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - MAM/RJ.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Feira SP Arte 2010

Artes plásticas
Feira SP Arte 2010 tem 320 obras em galeria virtual

Gravura de Rodolpho Parigi, da Galeria Motor (Reprodução)
A internet chegou à SP Arte, feira de artes plásticas que é considerada a maior do país e uma das mais importantes da América Latina. Entre as 80 galerias que participam do evento, realizado entre esta quinta e domingo no Pavilhão da Bienal, em São Paulo, uma delas pertence ao site de vendas Submarino.

Fruto de um investimento de 200.000 reais, de acordo com uma de suas idealizadoras, a galerista Nara Roesler, a Galeria Motor participará com 320 das mais de 1.500 obras da SP Arte 2010. A galeria do Submarino foi lançada em novembro e conta com obras de artistas brasileiros e estrangeiros, entre gravuras, fotografias, pinturas e esculturas.

Os nomes de maior destaque de seu acervo são Tomie Othake e Nelson Leirner. Uma fotografia de Leirner é oferecida a 4.000 reais. Tomie tem gravura vendida a 3.500.

Além de poder ser visitada pela internet, a Galeria Motor terá um stand na sexta edição da feira, com algumas obras expostas e um computador com acesso à internet, para o consumidor que se decidir pela compra no local.

Neste ano, a organização espera atingir um volume de vendas de 15 milhões de dólares – contra os estimados 12 milhões de 2009. Dez galerias estrangeiras participam do evento, de países como Argentina, Uruguai, México, Estados Unidos, Espanha, França e Inglaterra.

André Barreto de Azambuja -> "ARTE " TENDÊNCIAS do MERCADO





ARTE E DINHEIRO – TENDÊNCIAS NO MERCADO
NACIONAL E INTERNACIONAL DE ARTE

Para iniciar este encontro breve com vocês teremos
de considerar primeiro a complexidade e as divergências
entre o conceito da arte e os seus aspectos
mercadológicos.
Os pontos onde esses dois universos distintos se
aproximam ou se afastam são determinados pela
confrontação entre os interesses e suas naturezas. Hoje, já
que o confronto entre os interesses econômicos e culturais
está bastante evidente, por causa principalmente da força
dos mercados, os governos de muitos países começam a
dar mais importância ao campo da cultura e das artes e a
considerar a cultura como novo eixo do desenvolvimento
econômico, de criação e geração de valor.
A formação e a percepção de valor vai influir direta e
indiretamente o mercado de arte, que se nutre de 2 tipos de
valor: cultural e econômico. Na dinâmica do mercado há
uma busca constante de valor. No valor cultural, o preço é menos importante que o reconhecimento. Há uma grande
dose de elementos intangíveis. Já na lógica do mercado, o
reconhecimento é um meio e não um fim em si mesmo.
Vale lembrar que a arte tem caráter SUBJETIVO e
SIMBÓLICO, o que a distingue de qualquer outro objeto de
mercado, e que acaba promovendo um mercado de risco.
O contato com o objeto artístico requer mais do que o
processo racional. Mesmo quando um colecionador ou
investidor adquire algo visando o lucro futuro, ele primeiro
se emociona, a obra lhe toca. Há uma rede de sentidos, de
significados que se estabelece nesse encontro. Por que
escolher uma determinada obra ou um artista e não outro?
Não é só porque ele vale mais. Tem aí um exercício de
mimetismo e status. Mas tem um fio submerso que conduz
o critério de escolhas que passa pelo universo sensorial: o
sentir, emocionar-se. Por isso é um mercado cercado de
mistérios, incertezas, deslumbramentos.
Eu diria que isso é todo o começo da lógica do
mercado de arte.
A criatividade é a chave na cadeia de valor e o artista
vive numa constante luta pelo reconhecimento e boa
distribuição. O papel do conteúdo criativo no processo do
valor agregado diferencial é fundamental. Mas na verdade
são valores simbólicos, difíceis de analisar apesar de gerar
externalidades. Principalmente hoje que os mercados de
arte estão imersos em um contexto de mudanças por conta
do impacto das novas tecnologias da informação e da
comunicação, e do processo de globalização econômica. O
mercado de arte não é mais uma ilha. Indicadores são
ferramenta importante: banco de dados Art Price, revista
Art News, revista Kunst Compass.
Hoje a situação e o contexto do mercado é:
• Há maior diversificação de museus, feiras, leilões
e bienais de arte.
• Reaquecimento do mercado de arte internacional
alimentado pelos novos compradores: russos,
chineses e sudeste asiático.
• Número da receita do mercado de arte – US$ 30
a 40 bilhões ao ano.
No Brasil, há hoje preocupação maior das galerias em
privilegiar eventos internacionais, apesar de custar muito
caro (precisam de alto investimento com seguro e
transporte).
O mercado internacional novamente começou a
crescer, segundo os analistas, desde o boom dos anos 80.
Esses novos compradores nutrem as feiras internacionais
(a TEFA em Mastrich, Holanda, a Basel na Suíça, Arco na
Espanha, Miami Basel e Armory Show, nos EUA), os
leilões da Christies e Sotheby’s e as galerias (esse novo
público mudou o gosto do comprador). Para resgatar suas
heranças culturais adquirem também obras de arte oriental.
No ano passado a Christies e a Sotheby’s registraram o
maior desempenho dos últimos 15 anos.
Voltando à questão do reconhecimento do valor da
obra, está acontecendo, a meu ver, um deslocamento de
poder. Muito se fala da força do próprio mercado com
relação à variação e valorização de preços de obras de
artistas, mas é interessante considerar que o “nãomercado”,
que seria o institucional, ou o valor cultural, é
hoje uma importante ferramenta para formação de valor e
mesmo preço. A tendência de concepção das feiras como a
Arco, a Basel e a própria SP arte, aqui em São Paulo, é de
critérios de escolha centrados nas curadorias, com uma
preocupação grande em produzir conhecimento e
informação, por meio de cursos, debates e palestras. Um
conceito que, além do objetivo da venda, ou melhor, para
gerar a venda, a proposta é educacional, informativa,
reflexiva. O público comprador e o investidor traz hoje a
necessidade de informação e o conhecimento da arte e sua
história.
No caso das feiras internacionais, como a Arco, a
política é tentar corrigir a desigualdade e o preconceito
ainda dos países latino-americanos, africanos e asiáticos,
não só divulgando, mas dando informação, gerando
conhecimento, formando opinião, com o nosso olhar, sob o
nosso ponto de vista.
Quanto à inserção da arte brasileira contemporânea
no mercado internacional, alguns artigos sobre isso já
foram publicados, mostrando que a arte brasileira lá fora
não tem uma participação significativa. E isso se deve ao
fato de que ainda hoje persiste a idéia de uma arte exótica,
que não faz parte das potências econômicas.
A participação de 108 artistas brasileiros na Arco é um
avanço na divulgação, e até alcança a esfera institucional
da promoção, ou seja, os críticos internacionais (europeus
e americanos), os curadores e alguns poucos grandes. A
visibilidade não é o mesmo que valorização da obra. Ela
contribui, mas é um dos elementos de valoração.
As feiras internacionais, apesar de acentuarem as
desigualdades e a competitividade do mercado, a médio e
longo prazo são importantes ferramentas para valorar
obras e comercializá-las. A valorização não se dá do dia
para noite, passa pelos atores de não-mercado, que é o
circuito institucional, a crítica de arte e principalmente as
instituições museológicas.
Segundo a pesquisadora Ana Letícia Fialho, que
defendeu Tese de Doutorado sobre o assunto, o passo que
a produção artística contemporânea brasileira deu lá fora
foi mais a nível de reconhecimento da crítica e dos museus,
mas não no valor de mercado. Eu diria que é um
importante passo para aprender a caminhar.
Na verdade as leis do mercado (da oferta e da
procura) estão indireta e diretamente influenciadas pelo
institucional e pela crítica de arte. Os papéis estão sendo
trocados: as feiras mais parecem bienais e as bienais são
destituídas de suas funções originais e até estão
desacreditadas.
Tirando o viés curatorial das feiras, elas mantém um
fato bastante diferente das bienais, como observou o
jornalista Fabio Cypriano, no artigo para o Fórum
Permanente. Elas diminuem o risco do investimento com
um suporte mais clássico, que é a pintura. Na Arco, por
exemplo, a pintura estava representada muito mais do que
qualquer outro suporte, mesmo havendo performances e
outras técnicas, o que o mercado vende mesmo é a
pintura. Apesar da preocupação institucional ser
verdadeira, há uma preocupação maior, que é o seu
objetivo fundamental – a comercialização e as pessoas
querem levar para casa não conceitos, mas a obra formal e
esteticamente bela. Claro que um belo relativo.
Ainda com relação à feiras, é importante considerar
que há uma mudança de conceito também no que diz
respeito à escolha de participação das galerias: ela é
centrada no artista, na obra, e não somente na galeria. Elas
são escolhidas porque representam os artistas. As
estratégias para a comercialização passaram primeiro pelo
não-mercado. Dessa maneira ampliam-se as oportunidades
a partir do conhecimento que acaba promovendo o
reconhecimento da obra.
Impacto do mercado financeiro no mercado de arte
Tanto o mercado de arte como o mercado financeiro
estão relacionados com a quatidade de capital (dinheiro)
excedente disponível em circulação. Segundo o artigo de
Robert Frank, no Wall Street Journal de 14 de abril de
2008, intitulado “Is Street Turmoil Coloring Art Market?
Sotheby’s Receivables Are Up as Buyers Delay; The Price
of ‘Wall Power”, começam a aparecer sinais do impacto da
crise do mercado financeiro e da diminuição do
crescimento econômico. Os efeitos estão começando a
aparecer:
• rice (www.artprice.com)
Apesar de
O mercado de
ações
encolheu
• Ações da Sotheby’s no mercado
de NY despencou 57%. Isso
aconteceu depois da tentativa de
venda de um Van Gogh que não
foi concretizada
• Os preços de obras de arte
aumentaram 18% em 2007, de
acordo com o indicador Art Price
(www.artprice.com)
• Volume de vendas (receita U$ 800
milhões)
Segundo o diretor da Sotheby’s, as contas a pagar só
correspondem ao aumento de vendas, mas o mercado lê
as coisas além disso. Para garantir o pagamento, a
Sotheby’s ampliou o prazo de pagamento. Está tomando
mais riscos garantindo um preço mínimo. Segundo a
Sotheby’s, o mercado está ainda aquecido.
São hipóteses. Se tiver um slow down do mercado, a
Sotheby’s será afetada na veia. O mercado se antecipou e
vendeu. Será que as vendas serão suficientes para garantir
a Sotheby’s?
1. Depoimento de colecionador - Marcelo de Medeiros
(arte sacra)
• O mercado de arte sacra é um dos mercados
mais desinformados no Brasil. Não tem marca,
que é muito importante hoje, num mercado onde
a assinatura do artista é determinante.
• Os maiores clientes, os estrangeiros, sumiram.
A globalização diminuiu as distâncias e as
reuniões não-presenciais (via telefone, vídeoconferência,
internet) isenta as pessoas de se
deslocarem.
• A educação piorou. O brasileiro que comprava
era mais bem informado. Hoje compra-se
assinatura.
• Um mercado que depende de poucos, é
emocional também como o mercado de arte
contemporânea, e a compra é alimentada por
razões de mimetismo e desejo de status.
2. Depoimento de uma artista – Yugo Mabe (arte
contemporânea)
Como artista é contra o leilão, pois desvaloriza a obra
a ser comprada. As peças que são compradas no atelier
dos artistas costumam ter preço mais elevado, pois quem
valoriza é o próprio artista. O leilão é uma oportunidade
para o comprador e não para o artista.
Há algumas formas de um artista da comunidade
japonesa se destacar, e a principal delas é o Salão Bunkyo,
que continuou o Salão Seibi. Antes dos anos 70 o estilo
figurativo era freqüente no Salão, mas depois disso, o
abstrato é mais explorado. Além de promover premiações,
o Bunkyo é a porta de entrada para o mercado e o
reconhecimento fora da comunidade.
A questão da moda
Para Yugo, o mercado é sazonal e depende muito da
moda. Disse, inclusive, que alguns artistas mudam de tema
e estilo para conseguir vender.
A galeria e o marchand são quem escolhem as obras
e os artistas em quem irão investir. Além disso, o próprio
artista não sabe vender sua obra, sua intenção é produzir e
não vender. As galerias cobram de 30 a 50 % sobre o valor
da obra. Outro autor que é muito importante nesse
mercado é o decorador, pois ele forma opinião.
Yugo ainda citou o caso de seu pai, Manabu Mabe.
Logo depois de sua morte, devido ao excesso de ofertas de
suas obras, o preço caiu. Agora, como as peças desse
artista estão em falta no mercado, o preço está alto. Outros
fatores que cooperam para esta alta são: a presença do
artista em museus, o centenário da imigração japonesa e a
não-comercialização mais de obras por parte da família.
PALAVRAS FINAIS
Para finalizar, hoje o mercado de arte caracteriza-se
por ser um mercado de autores e não de obras.
O marchand investe na produção de novos artistas
que ainda não estão valorizados no mercado, e que, a
partir de suas qualidades intrínsecas e simbólicas, passa a
ser reconhecida economicamente. Do valor cultural e
estético ao valor econômico, que gera o preço.
O mercado está aquecido por investidores e
colecionadores interessados. Ontem, na SP Arte pudemos
observar:
• Vendas finalizadas desde a hora da abertura.
• Presença de artistas como atores importantes desse
mercado de arte. Não só no processo de produção e
criação, mas também na comercialização, informando
o comprador, relacionando-se com seu público. Por
exemplo, entre outros, estavam lá Alex Flemming,
Carlos Araújo.
• Alguns artistas que estão inseridos no mercado
internacional reconhecem que a grande parte do
investidor ou mesmo o comprador, de um modo geral,
é menos culto e desinformado aqui no Brasil. O
grande formador de opinião é o decorador.
• Pode-se pensar que uma das razões para o
aquecimento do mercado é além do dinheiro do
mercado financeiro deslocar-se para o investimento
em arte, há pouca oferta de arte de qualidade; há
muitos artistas que surgem fabricados pela mídia mas
não se mantém porque só o tempo confere o
reconhecimento e a consagração.
• O aumento de demanda promoveu o mercado de
papel, de gravuras.
Concluindo, a profissionalização do mercado de arte
no Brasil decola e promove uma viagem, que a longo
prazo atingirá seu objetivo. Mas, por hora, não se pode
ainda prever as turbulências desse vôo e nem se vai
atingir o nível cruzeiro.

Arte brasileira busca consolidar prestígio no mercado internacional . Especialistas ouvidos pela BBC Brasil analisa o atual momento dos artistas

Quando a Bienal do Mercosul abrir suas portas nesta sexta-feira em Porto Alegre, galeristas brasileiros estarão de olho no colecionador estrangeiro. Para especialistas, vários indicadores sugerem que a arte brasileira viveria hoje seu momento de maior prestígio da história.



De acordo com Tanya Barson, curadora de arte latino-americana da galeria britânica Tate Modern, a arte brasileira tem hoje um impacto muito mais amplo no circuito internacional do que em qualquer outro momento de sua história.


A colecionadora e diretora da feira internacional de arte de São Paulo (SP Arte), Fernanda Feitosa, concorda. Ela diz que, desde que o evento foi criado, há cinco anos, o número de galerias participantes dobrou, e o público também.


E lembra que um dos marchands mais famosos do mundo, o britânico Jay Joplin, esteve na SP Arte em abril desse ano. "Achei muito sintomático que o Jay Joplin, ícone da arte dos anos 90, tenha dedicado uma semana da agenda dele ao Brasil".


A presença de Jay Joplin - dono da galeria londrina White Cube e figura-chave nas carreiras de Damien Hirst e outros grandes nomes da arte britânica - na SP Arte também chamou a atenção do jornal alemão DieWelt


Também em abril, o jornal publicou uma reportagem afirmando que a arte do Brasil teria alcançado reputação sem precedentes no mundo.


Como evidências do fenômeno, o Welt citou, além da visita de Jay Joplin à SP Arte, a exposição do brasileiro Cildo Meireles na galeria britânica Tate Modern, ano passado (um recorde de audiência) além da presença de cada vez mais obras do Brasil no acervo da galeria.


O valor das obras no mercado internacional, disse o jornal, também estaria subindo.


Fatores Econômicos


Para o professor de História da Arte Contemporânea da Unicamp Nélson Aguilar, curador geral da 22ª e 23ª bienais de São Paulo e da 4ª Bienal do Mercosul, existe mesmo um maior reconhecimento da arte brasileira no exterior.


Ele disse à BBC Brasil que a emergência do país no cenário econômico internacional tem influência nisso. E apontou para o crescente interesse pela arte de outros integrantes do grupo dos Bric, como Índia e China.


Aguilar acredita, no entanto, que no caso do Brasil o reconhecimento de hoje não se explica apenas por fatores econômicos.


"Artistas contemporâneos como Ernesto Neto e Beatriz Milhazes só são interessantes porque estão ligados organicamente ao que veio antes. Uma cultura só se universaliza quando os artistas dela são filhos de artistas da mesma cultura."


O especialista está se referindo a uma linhagem que inclui, mais atrás, artistas como Hélio Oiticica, Lygia Clark e Mira Schendel.


"Nos anos sessenta, nós sabíamos que o Oiticica era um gênio, e que a Lygia Clark e a Mira Schendel estavam fazendo um trabalho importantíssimo. Víamos esses artistas passarem batidos no exterior mas sabíamos que a visão da crítica estrangeira era eurocêntrica e restrita".


Aguilar diz que a Inglaterra, no entanto, sempre foi mais aberta. E lembra as exposições pioneiras desses três artistas nas galerias Signals e Whitechapel, em Londres, nos anos 60.


Identidade


Tanya Barson tem uma interpretação diferente.


"Eu não diria que o mundo das artes britânico fosse tão iluminado a ponto de reconhecer a importância daquelas carreiras naquele período. A Tate, por exemplo, não comprou obras desses artistas, com exceção de uma, de Sérgio Camargo, naquela época".


"A situação é completamente diferente hoje e o mundo está reconhecendo quão imensamente significativa é a arte brasileira, tanto em termos de sua produção contemporânea quanto em sua história recente".


Ela cita como exemplo o trabalho do carioca Cildo Meireles.


"O trabalho dele tem substância, consistência e rigor intelectual e ele é um dos mais importantes artistas vivos. Estava mais do que na hora de ele ser tema de uma exposição de grande porte, como a feita pela Tate."


Barson fala com paixão da arte do Brasil, um país que ela visita regularmente porque, nas palavras dela, "a Tate não pode deixar de ficar atenta à produção de jovens artistas emergindo hoje no Brasil".


"Artistas brasileiros se relacionam com a arte moderna de uma maneira totalmente única, inovam e dialogam muito bem com arte européia e americana, mas fazem algo completamente distinto. Eles não só podem ser incorporados, como também desafiam o cânon da história da arte que contamos".


Hoje a Tate Modern tem em seu acervo obras de mais de 20 artistas brasileiros, entre eles Hélio Oiticica, Lygia Clark, Mira Schendel, Cildo Meireles, Ana Maria Pacheco, Vik Muniz, Adriana Varejão, Ernesto Neto, Fernanda Gomes, Sérgio Camargo e Leonílson.


Sem Consenso


Alguns, como a artista paulistana Mariannita Luzzati, são mais céticos em relação à posição da arte brasileira no mundo hoje.


Luzzati vive parte do tempo na Inglaterra e exibe seu trabalho regularmente no Brasil e no exterior. Ela é representada por galerias nos dois países. Em 2001, dois de seus quadros foram comprados pelo Museu Britânico, em Londres.


"Tenho certeza de que se tivesse nascido e estudado na Inglaterra, estaria melhor hoje do que sendo brasileira na Inglaterra", ela disse à BBC Brasil.


A artista disse ter observado um interesse um pouco maior por parte da Tate em adquirir alguns artistas brasileiros, mas acha que, quando se trata de competir no mercado internacional, a arte do Brasil ainda está "engatinhando".


Luzzati faz uma lista dos velhos problemas que afligem o setor: falta de investimento público na divulgação da arte brasileira no exterior, despreparo dos museus, e, também, o perfil do colecionador brasileiro.


"A maioria dos colecionadores no Brasil compra como um sinal de status e prefere o artista que está fazendo sucesso na Inglaterra ou nos Estados Unidos, porque ele dá mais status do que o brasileiro".


"Eu espero que o Brasil seja a bola da vez, que a arte brasileira estoure como estourou a arte chinesa, mas no caso da China, antes do investimento estrangeiro, houve milhares de colecionadores chineses investindo em chineses".


Números


Se nos basearmos em números, a idéia de que o Brasil seja mesmo a bola da vez no mercado internacional de arte se torna um sonho distante: as obras brasileiras ainda não atingiram os valores milionários alcançados por trabalhos de pesos pesados da arte contemporânea mundial.


Para a diretora da SP Arte Fernanda Feitosa, isso pode na verdade aumentar os atrativos da arte brasileira.


"Um quadro da Beatriz Milhazes aqui na feira estava sendo vendido por US$ 500 mil", disse Fernanda Feitosa, diretora da SP Arte, à BBC Brasil. "Um Cildo Meireles não custa a mesma coisa que um artista comparável a ele no mercado internacional. Então ainda existe muito espaço para uma valorização da arte brasileira. Você não está comprando no topo".


Uma pessoa poderia talvez ajudar a fechar esse debate mas, famosamente, não dá entrevistas.


Apesar de várias solicitações da BBC Brasil, o lendário galerista e investidor britânico Jay Joplin não estava disponível para explicar o que foi fazer no Brasil em abril deste ano. BBC Brasil

Arte Brasileira no Exterior

vArte Brasileira no Exterior
Entre os dias 3 e 18 de fevereiro, o país será homenageado em uma das mais importantes feiras de artes visuais do mundo. A Arco 2008 receberá uma enxurrada de obras em diferentes suportes, que ocuparão um pavilhão de mil metros quadrados, entre os dias 13 e 18 de fevereiro, em Madri.

Jornal do Brasil

A Arco é uma feira com fins comerciais, mas também atrai admiradores das artes plásticas. É uma ótima vitrine para a produção nacional, principalmente para aqueles artistas que ainda não têm reconhecimento no exterior - diz Moacir dos Anjos, responsável pela curadoria da mostra, junto com Paulo Sergio Duarte.

O projeto é uma realização do Ministério da Cultura, que destinou R$ 2,6 milhões para o traslado das obras e uma ajuda de custo para despesas de infra-estrutura para a mão-de-obra responsável pela montagem. Partiu também do grupo de trabalho governamental a escolha dos curadores responsáveis pela seleção de 108 artistas e de 32 galerias de todo o Brasil. Estarão em Madri representantes de São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Salvador, Recife, Curitiba e Porto Alegre.

Fizemos o caminho inverso de alguns curadores que já passaram pela Arco. Optamos por escolher primeiro os artistas e, a partir daí, decidimos as galerias que os representariam. Assim é mais justo, mostramos o criador do produto principal. Também demos oportunidade às galerias de fora do eixo Rio-São Paulo - observa Moacir.

Burocracia atrapalha

O Brasil não estará representado na Espanha apenas pelos artistas e galerias que vão para Arco. Paralelamente à feira, ocorrerão uma série de eventos que apresentam outros elementos da cultura nacional. Além do acordo com a organização do evento, o Ministério da Cultura estabeleceu relações com outras instituições espanholas para o patrocínio de exposições em museus e também para a realização de mostras de cinema.

A escolha do Brasil como país homenageado abriu a possibilidade de aprofundar as relações com empresas da Europa - conta Paulo Brum, coordenador-geral do MinC para a Arco 2008. - O objetivo é conseguir apoio estrangeiro para o desenvolvimento da cultura brasileira fora do país.
Para Moacir dos Anjos, o envolvimento do MinC é benéfico para o desenvolvimento da atividade no país.

Acredito que a partir desse projeto sejam revistas algumas leis e regulamentações que atravancam um pouco a disseminação internacional das artes visuais brasileiras - torce o curador.

As leis e regulamentações relacionadas às exportações de obras de arte a que Moacir se refere também afligem as galerias que já possuem alguma projeção internacional. Para Mercedes Viegas esses trâmites burocráticos são obstáculos difíceis de transpor.

A burocracia para levar uma obra para feiras internacionais é enorme. As leis para tirar uma peça do país são erradas e nos impedem de divulgar mais o trabalho lá fora. Uma nova regulamentação ajudaria bastante - ressalta a galerista, que levará três artistas que representa para Madri: Angelo Venosa, Ana Holk e Eduardo Coimbra.

Não é só a burocracia para tirar as obras do Brasil que atrapalha os galeristas. Marcio Botner, da A gentil carioca, que estará na feira com dois estandes, aponta outros contratempos no projeto.

Tive vários problemas, o principal deles com a disposição dos estandes - reclama Botner, que também pede uma revisão das ações para exportação de obras de arte.

Galeristas protestam

Para administrar os recursos disponibilizados pelo MinC o órgão firmou parceria com a Fundação Athos Bulcão que, por sua vez, delegou funções a uma empresa de produção, a Automática. Luiza Mello, responsável pela empresa contratada, argumenta que o projeto está sendo cumprido dentro do prazo estabelecido.

Alguns responsáveis pelas galerias reclamam sem necessidade. É sempre assim, estou acostumada a lidar com isso. Claro que ocorrem alguns problemas. É natural num projeto desse porte, mas estamos trabalhando sem parar para que tudo dê certo - garante Luiza.
Ricardo Rego, representante da Lurixis, que vai participar pela primeira vez de uma feira do porte da Arco, minimiza a polêmica:

Temos de aprender com os erros, mas a participação de todos é fundamental para o crescimento das artes visuais. Estaremos com obras de arte circulando pela Europa, satisfazendo a curiosidade internacional sobre o que produzimos aqui no país e abrindo portas.