segunda-feira, 2 de agosto de 2010

André Barreto de Azambuja -> "ARTE " TENDÊNCIAS do MERCADO





ARTE E DINHEIRO – TENDÊNCIAS NO MERCADO
NACIONAL E INTERNACIONAL DE ARTE

Para iniciar este encontro breve com vocês teremos
de considerar primeiro a complexidade e as divergências
entre o conceito da arte e os seus aspectos
mercadológicos.
Os pontos onde esses dois universos distintos se
aproximam ou se afastam são determinados pela
confrontação entre os interesses e suas naturezas. Hoje, já
que o confronto entre os interesses econômicos e culturais
está bastante evidente, por causa principalmente da força
dos mercados, os governos de muitos países começam a
dar mais importância ao campo da cultura e das artes e a
considerar a cultura como novo eixo do desenvolvimento
econômico, de criação e geração de valor.
A formação e a percepção de valor vai influir direta e
indiretamente o mercado de arte, que se nutre de 2 tipos de
valor: cultural e econômico. Na dinâmica do mercado há
uma busca constante de valor. No valor cultural, o preço é menos importante que o reconhecimento. Há uma grande
dose de elementos intangíveis. Já na lógica do mercado, o
reconhecimento é um meio e não um fim em si mesmo.
Vale lembrar que a arte tem caráter SUBJETIVO e
SIMBÓLICO, o que a distingue de qualquer outro objeto de
mercado, e que acaba promovendo um mercado de risco.
O contato com o objeto artístico requer mais do que o
processo racional. Mesmo quando um colecionador ou
investidor adquire algo visando o lucro futuro, ele primeiro
se emociona, a obra lhe toca. Há uma rede de sentidos, de
significados que se estabelece nesse encontro. Por que
escolher uma determinada obra ou um artista e não outro?
Não é só porque ele vale mais. Tem aí um exercício de
mimetismo e status. Mas tem um fio submerso que conduz
o critério de escolhas que passa pelo universo sensorial: o
sentir, emocionar-se. Por isso é um mercado cercado de
mistérios, incertezas, deslumbramentos.
Eu diria que isso é todo o começo da lógica do
mercado de arte.
A criatividade é a chave na cadeia de valor e o artista
vive numa constante luta pelo reconhecimento e boa
distribuição. O papel do conteúdo criativo no processo do
valor agregado diferencial é fundamental. Mas na verdade
são valores simbólicos, difíceis de analisar apesar de gerar
externalidades. Principalmente hoje que os mercados de
arte estão imersos em um contexto de mudanças por conta
do impacto das novas tecnologias da informação e da
comunicação, e do processo de globalização econômica. O
mercado de arte não é mais uma ilha. Indicadores são
ferramenta importante: banco de dados Art Price, revista
Art News, revista Kunst Compass.
Hoje a situação e o contexto do mercado é:
• Há maior diversificação de museus, feiras, leilões
e bienais de arte.
• Reaquecimento do mercado de arte internacional
alimentado pelos novos compradores: russos,
chineses e sudeste asiático.
• Número da receita do mercado de arte – US$ 30
a 40 bilhões ao ano.
No Brasil, há hoje preocupação maior das galerias em
privilegiar eventos internacionais, apesar de custar muito
caro (precisam de alto investimento com seguro e
transporte).
O mercado internacional novamente começou a
crescer, segundo os analistas, desde o boom dos anos 80.
Esses novos compradores nutrem as feiras internacionais
(a TEFA em Mastrich, Holanda, a Basel na Suíça, Arco na
Espanha, Miami Basel e Armory Show, nos EUA), os
leilões da Christies e Sotheby’s e as galerias (esse novo
público mudou o gosto do comprador). Para resgatar suas
heranças culturais adquirem também obras de arte oriental.
No ano passado a Christies e a Sotheby’s registraram o
maior desempenho dos últimos 15 anos.
Voltando à questão do reconhecimento do valor da
obra, está acontecendo, a meu ver, um deslocamento de
poder. Muito se fala da força do próprio mercado com
relação à variação e valorização de preços de obras de
artistas, mas é interessante considerar que o “nãomercado”,
que seria o institucional, ou o valor cultural, é
hoje uma importante ferramenta para formação de valor e
mesmo preço. A tendência de concepção das feiras como a
Arco, a Basel e a própria SP arte, aqui em São Paulo, é de
critérios de escolha centrados nas curadorias, com uma
preocupação grande em produzir conhecimento e
informação, por meio de cursos, debates e palestras. Um
conceito que, além do objetivo da venda, ou melhor, para
gerar a venda, a proposta é educacional, informativa,
reflexiva. O público comprador e o investidor traz hoje a
necessidade de informação e o conhecimento da arte e sua
história.
No caso das feiras internacionais, como a Arco, a
política é tentar corrigir a desigualdade e o preconceito
ainda dos países latino-americanos, africanos e asiáticos,
não só divulgando, mas dando informação, gerando
conhecimento, formando opinião, com o nosso olhar, sob o
nosso ponto de vista.
Quanto à inserção da arte brasileira contemporânea
no mercado internacional, alguns artigos sobre isso já
foram publicados, mostrando que a arte brasileira lá fora
não tem uma participação significativa. E isso se deve ao
fato de que ainda hoje persiste a idéia de uma arte exótica,
que não faz parte das potências econômicas.
A participação de 108 artistas brasileiros na Arco é um
avanço na divulgação, e até alcança a esfera institucional
da promoção, ou seja, os críticos internacionais (europeus
e americanos), os curadores e alguns poucos grandes. A
visibilidade não é o mesmo que valorização da obra. Ela
contribui, mas é um dos elementos de valoração.
As feiras internacionais, apesar de acentuarem as
desigualdades e a competitividade do mercado, a médio e
longo prazo são importantes ferramentas para valorar
obras e comercializá-las. A valorização não se dá do dia
para noite, passa pelos atores de não-mercado, que é o
circuito institucional, a crítica de arte e principalmente as
instituições museológicas.
Segundo a pesquisadora Ana Letícia Fialho, que
defendeu Tese de Doutorado sobre o assunto, o passo que
a produção artística contemporânea brasileira deu lá fora
foi mais a nível de reconhecimento da crítica e dos museus,
mas não no valor de mercado. Eu diria que é um
importante passo para aprender a caminhar.
Na verdade as leis do mercado (da oferta e da
procura) estão indireta e diretamente influenciadas pelo
institucional e pela crítica de arte. Os papéis estão sendo
trocados: as feiras mais parecem bienais e as bienais são
destituídas de suas funções originais e até estão
desacreditadas.
Tirando o viés curatorial das feiras, elas mantém um
fato bastante diferente das bienais, como observou o
jornalista Fabio Cypriano, no artigo para o Fórum
Permanente. Elas diminuem o risco do investimento com
um suporte mais clássico, que é a pintura. Na Arco, por
exemplo, a pintura estava representada muito mais do que
qualquer outro suporte, mesmo havendo performances e
outras técnicas, o que o mercado vende mesmo é a
pintura. Apesar da preocupação institucional ser
verdadeira, há uma preocupação maior, que é o seu
objetivo fundamental – a comercialização e as pessoas
querem levar para casa não conceitos, mas a obra formal e
esteticamente bela. Claro que um belo relativo.
Ainda com relação à feiras, é importante considerar
que há uma mudança de conceito também no que diz
respeito à escolha de participação das galerias: ela é
centrada no artista, na obra, e não somente na galeria. Elas
são escolhidas porque representam os artistas. As
estratégias para a comercialização passaram primeiro pelo
não-mercado. Dessa maneira ampliam-se as oportunidades
a partir do conhecimento que acaba promovendo o
reconhecimento da obra.
Impacto do mercado financeiro no mercado de arte
Tanto o mercado de arte como o mercado financeiro
estão relacionados com a quatidade de capital (dinheiro)
excedente disponível em circulação. Segundo o artigo de
Robert Frank, no Wall Street Journal de 14 de abril de
2008, intitulado “Is Street Turmoil Coloring Art Market?
Sotheby’s Receivables Are Up as Buyers Delay; The Price
of ‘Wall Power”, começam a aparecer sinais do impacto da
crise do mercado financeiro e da diminuição do
crescimento econômico. Os efeitos estão começando a
aparecer:
• rice (www.artprice.com)
Apesar de
O mercado de
ações
encolheu
• Ações da Sotheby’s no mercado
de NY despencou 57%. Isso
aconteceu depois da tentativa de
venda de um Van Gogh que não
foi concretizada
• Os preços de obras de arte
aumentaram 18% em 2007, de
acordo com o indicador Art Price
(www.artprice.com)
• Volume de vendas (receita U$ 800
milhões)
Segundo o diretor da Sotheby’s, as contas a pagar só
correspondem ao aumento de vendas, mas o mercado lê
as coisas além disso. Para garantir o pagamento, a
Sotheby’s ampliou o prazo de pagamento. Está tomando
mais riscos garantindo um preço mínimo. Segundo a
Sotheby’s, o mercado está ainda aquecido.
São hipóteses. Se tiver um slow down do mercado, a
Sotheby’s será afetada na veia. O mercado se antecipou e
vendeu. Será que as vendas serão suficientes para garantir
a Sotheby’s?
1. Depoimento de colecionador - Marcelo de Medeiros
(arte sacra)
• O mercado de arte sacra é um dos mercados
mais desinformados no Brasil. Não tem marca,
que é muito importante hoje, num mercado onde
a assinatura do artista é determinante.
• Os maiores clientes, os estrangeiros, sumiram.
A globalização diminuiu as distâncias e as
reuniões não-presenciais (via telefone, vídeoconferência,
internet) isenta as pessoas de se
deslocarem.
• A educação piorou. O brasileiro que comprava
era mais bem informado. Hoje compra-se
assinatura.
• Um mercado que depende de poucos, é
emocional também como o mercado de arte
contemporânea, e a compra é alimentada por
razões de mimetismo e desejo de status.
2. Depoimento de uma artista – Yugo Mabe (arte
contemporânea)
Como artista é contra o leilão, pois desvaloriza a obra
a ser comprada. As peças que são compradas no atelier
dos artistas costumam ter preço mais elevado, pois quem
valoriza é o próprio artista. O leilão é uma oportunidade
para o comprador e não para o artista.
Há algumas formas de um artista da comunidade
japonesa se destacar, e a principal delas é o Salão Bunkyo,
que continuou o Salão Seibi. Antes dos anos 70 o estilo
figurativo era freqüente no Salão, mas depois disso, o
abstrato é mais explorado. Além de promover premiações,
o Bunkyo é a porta de entrada para o mercado e o
reconhecimento fora da comunidade.
A questão da moda
Para Yugo, o mercado é sazonal e depende muito da
moda. Disse, inclusive, que alguns artistas mudam de tema
e estilo para conseguir vender.
A galeria e o marchand são quem escolhem as obras
e os artistas em quem irão investir. Além disso, o próprio
artista não sabe vender sua obra, sua intenção é produzir e
não vender. As galerias cobram de 30 a 50 % sobre o valor
da obra. Outro autor que é muito importante nesse
mercado é o decorador, pois ele forma opinião.
Yugo ainda citou o caso de seu pai, Manabu Mabe.
Logo depois de sua morte, devido ao excesso de ofertas de
suas obras, o preço caiu. Agora, como as peças desse
artista estão em falta no mercado, o preço está alto. Outros
fatores que cooperam para esta alta são: a presença do
artista em museus, o centenário da imigração japonesa e a
não-comercialização mais de obras por parte da família.
PALAVRAS FINAIS
Para finalizar, hoje o mercado de arte caracteriza-se
por ser um mercado de autores e não de obras.
O marchand investe na produção de novos artistas
que ainda não estão valorizados no mercado, e que, a
partir de suas qualidades intrínsecas e simbólicas, passa a
ser reconhecida economicamente. Do valor cultural e
estético ao valor econômico, que gera o preço.
O mercado está aquecido por investidores e
colecionadores interessados. Ontem, na SP Arte pudemos
observar:
• Vendas finalizadas desde a hora da abertura.
• Presença de artistas como atores importantes desse
mercado de arte. Não só no processo de produção e
criação, mas também na comercialização, informando
o comprador, relacionando-se com seu público. Por
exemplo, entre outros, estavam lá Alex Flemming,
Carlos Araújo.
• Alguns artistas que estão inseridos no mercado
internacional reconhecem que a grande parte do
investidor ou mesmo o comprador, de um modo geral,
é menos culto e desinformado aqui no Brasil. O
grande formador de opinião é o decorador.
• Pode-se pensar que uma das razões para o
aquecimento do mercado é além do dinheiro do
mercado financeiro deslocar-se para o investimento
em arte, há pouca oferta de arte de qualidade; há
muitos artistas que surgem fabricados pela mídia mas
não se mantém porque só o tempo confere o
reconhecimento e a consagração.
• O aumento de demanda promoveu o mercado de
papel, de gravuras.
Concluindo, a profissionalização do mercado de arte
no Brasil decola e promove uma viagem, que a longo
prazo atingirá seu objetivo. Mas, por hora, não se pode
ainda prever as turbulências desse vôo e nem se vai
atingir o nível cruzeiro.

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